quarta-feira, 20 de abril de 2016

INTRODUÇÃO À GEOMORFOLOGIA

Introdução à Geomorfologia 1.


Introdução ao estudo da geomorfologia 1.1. A natureza da geomorfologia 1.2. A geomorfologia no contexto da Geografia 1.3. Síntese Evolutiva dos Postulados geomorfológicos 1.4. Sistemas de referência em geomorfologia 1.4.1. O sistema de William M. Davis 1.4.2. O sistema de Walther Penck 1.4.3. O sistema de Lester C. King 1.4.4. O sistema de John T. Hack 1.5. Algumas evidências quanto à velocidade da denudação 1.6. Os níveis metodológicos em geomorfologia 1. Introdução ao estudo da geomorfologia O que é e para que serve a Geomorfologia: Mostrar a importância do estudo do relevo para os diferentes campos do conhecimento (planejamento urbano e regional, análise ambiental...), evidenciando a estreita relação com a Geografia. As grandes correntes geomorfológicas e a situação atual: Evidenciar as duas grandes linhagens epistemológicas (escola anglo-americana e germânica), com respectivas filiações, apresentando um panorama da situação atual (tendência holística, fundamentada na perspectiva germânica). Os níveis metodológicos em geomorfologia Mostrar a importância dos três níveis de abordagem sistematizados por Ab’Sáber (1969) para o estudo da geomorfologia. Resgatar a importância das unidades taxonômicas para o estudo do relevo (apresentar alguns conceitos básicos, como processos morfoclimáticos, morfogenéticos e morfodinâmicos, considerando as relações têmporo-espaciais). 1.1. A natureza da geomorfologia A geomorfologia é um conhecimento específico, sistematizado, que tem por objetivo analisar as formas do relevo, buscando compreender os processos pretéritos e atuais. Como componente disciplinar da temática geográfica, a geomorfologia constitui importante subsídio para a apropriação racional do relevo, como recurso ou suporte, considerando a conversão das propriedades geoecológicas em sócio-reprodutoras (Kügler, 1976, caracteriza as funções sócio-reprodutoras em suporte e recurso do homem). Seu objeto de estudo é a superfície da crosta terrestre, apresentando uma forma específica de análise que se refere ao relevo. A análise incorpora o necessário conhecimento do jogo de forças antagônicas, sistematizadas pelas atividades tectogenéticas (endógenas) e mecanismos morfoclimáticos (exógenos), responsáveis pelas formas resultantes. Partindo do princípio de que tanto os fatores endógenos, como os exógenos, são “forças vivas'', cujas evidências demonstram grandes transformações ao longo do tempo geológico, necessário se faz entender que o relevo terrestre não foi sempre o mesmo e que continuará evoluindo. Portanto, a análise geomorfológica de uma determinada área implica obrigatoriamente o conhecimento da evolução que o relevo apresenta, o que é possível se obter através do estudo das formas e das sucessivas deposições de materiais preservadas, resultantes dos diferentes processos morfogenéticos a que foi submetido. O relevo assume importância fundamental no processo de ocupação do espaço, fator que inclui as propriedades de suporte ou recurso, cujas formas ou modalidades de apropriação respondem pelo comportamento da paisagem e suas conseqüências. Ao se apresentar um estudo integral do relevo, deve-se levar em consideração os três níveis de abordagem sistematizados por Ab'Saber (1969), e que individualizam o campo de estudo da geomorfologia: a compartimentação morfológica, o levantamento da estrutura superficial e o estudo da fisiologia da paisagem. A compartimentação morfológica inclui observações relativas aos diferentes níveis topográficos e características do relevo, que apresentam uma importância direta no processo de ocupação. Nesse aspecto a geomorfologia assume importância ao definir os diferentes graus de risco que uma área possui, oferecendo subsídios ou recomendações quanto à forma de ocupação e uso. A estrutura superficial, ou depósitos correlativos2 se constitui importante elemento na definição do grau de fragilidade do terreno, sendo responsável pelo entendimento histórico da sua evolução, como se pode comprovar através dos paleopavimentos. Sabendo das características específicas dos diferentes tipos de depósitos que ocorrem em diferentes condições climáticas, torna-se possível compreender a dinâmica evolutiva comandada pelos elementos do clima considerando sua posição em relação aos níveis de base atuais, vinculados ou não a ajustamentos tectônicos. A fisiologia da paisagem , terceiro nível de abordagem, tem por objetivo compreender a ação dos processos morfodinâmicos atuais, inserindo-se na análise o homem como sujeito modificador. A presença humana normalmente tem respondido pela aceleração dos processos morfogenéticos, como as formações denominadas de tectogênicas, abreviando a atividade evolutiva do modelado. Mesmo a ação indireta do homem, ao eliminar a interface representada pela cobertura vegetal, altera de forma substancial as relações entre as forças de ação (processos morfogenéticos ou morfodinâmicos) e de reação da formação superficial, gerando desequilíbrios morfológicos ou impactos geoambientais como os movimentos de massa, boçorocamento, assoreamento, dentre outros, chegando a resultados catastróficos, a exemplo dos deslizamentos em áreas topograficamente movimentadas. No estudo desses níveis, do primeiro em relação ao terceiro, os processos evoluem de uma escala de tempo geológica para uma escala de tempo histórica ou humana, incorporando gradativamente novas variáveis analíticas, como relacionadas a derivações antropogênicas, e exigindo maior controle de campo, o que implica emprego de técnicas, como o uso de miras graduadas para controle de processos erosivos, podendo chegar a níveis elevados de sofisticação análises específicas. O estudo das formas do relevo deriva substancialmente das concepções geológicas do século XVIII, que representaram a tendência naturalista, voltada aos interesses do sistema de produção, tendo o “utilitarismo” como princípio. Em torno de 1850 a geologia havia chegado a grandes interpretações de conjunto da crosta terrestre, contando com um corpo teórico ordenado. A partir de então se registraram as primeiras contribuições dos geólogos nos estudos do relevo, dentre os quais se destacam os trabalhos de A. Surell, expondo esquema clássico da erosão torrencial, de Jean L. Agassiz, estabelecendo as bases da morfologia glacial, de W. Jukes, apresentando os primeiros conceitos sobre o traçado dos rios, de Andrew Ramsay e Grove K. Gilbert, evidenciando a capacidade de aplainamento pelas águas correntes, de John W. Powell e Clarence E. Dutton, calculando os ritmos de arraste e deposição dos sedimentos, dentre outros (Mendonza et al, 1982). No final do mesmo século, William M. Davis, dando prosseguimento aos estudos de G. K. Gilbert e J.W. Powell apresenta proposta de uma geomorfologia fundamentada na tendência escolástica da época, representada pelo evolucionismo. Como se sabe, a influência do darwinismo como forma de substituição do modelo mecanicista influenciou significativamente o conhecimento científico geral. A escola geomorfológica alemã, por outro lado, encabeçada por Albrecht Penck e Walther Penck, defensora de uma concepção integradora dos elementos que compõem a superfície terrestre, se contrapôs às idéias de W. Davis, fundamentada na noção de ciclo, tida como “finalista”. Evidencia-se, portanto, o nascimento de duas escolas geomorfológicas distintas, que serão consideradas a seguir, e cuja sistematização fundamentou-se em estudos desenvolvidos por Leuzinger (1948) e Abreu (1982 e 1983). 1.2. A Geomorfologia no contexto da Geografia A teoria geomorfológica edificou-se com nítida vinculação aos campos de interesse da geografia e da geologia. Assume importância ao ser abordada no contexto geográfico, considerando sua contribuição no processo de ordenamento territorial. Em importante revisão bibliográfica, Abreu (1982) mostra que o problema da pertinência da geomorfologia em relação à geografia, foi tratado em diversas oportunidades, como por Hartshorne (1939), Russel (1949), Bryan (1950),Taylor (1951), Leighly (1955), dentre outros. Wooldridge e Morgan (1946) consideram a pertinência da climatologia e da geomorfologia e de suas aplicações no campo da geografia. Nos anos 60e 70, a geomorfologia passa a ser incorporada ao contexto da crítica teórico-conceitual da geografia, destacando-se aqui os trabalhos de Hamelin (1964), Schmithüsen (1970), Neef (1972) e Kügler (1976), além de outros. Para Hamelin (1964), a geomorfologia se erige como uma disciplina por meio de sua própria teoria, não interessando em toda sua completude à geografia. Ao admitir a possibilidade de avançar em duas dimensões (geomorfologia funcional e geomorfologia completa ou integral), o autor compreende a geomorfologia como processo: de um lado, no contexto da geociências, devendo ser explorada numa escala temporal de maior magnitude (escala geológica), e de outro, concentrando suas atenções nos fenômenos de duração temporal mais curta, valorizando os aspectos das derivações antropogênicas (escala humana ou histórica). Conclui por uma postura consensual entre autores de língua inglesa e francesa, na qual a geomorfologia se erige como uma disciplina através de seu próprio campo e teoria, não interessando em toda sua extensão à Geografia (Abreu, 1982). Schmithüsen (1970), ao procurar articular o campo e o conteúdo da geografia, com o intuito de superar o antagonismo geografia física - geografia humana, propõe uma síntese em que a teoria e o método ocupem um lugar central. No “Sistema da Ciência Geográfica” proposto pelo autor, a divisão geografia física - geografia humana não encontra lugar, assinalando que esta dicotomia mais prejudica do que beneficia o verdadeiro campo da geografia”. A aproximação, ao invés da subordinação, da geomorfologia funcional a uma geografia global, no conceito de Hamelin (1964), resulta da própria tendência naturalista da escola germânica a partir da década de trinta, quando busca uma visão holística. Atribui-se a Tricart & Cailleux (1965) o tratamento do relevo como “unidade dialética” por entenderem sua evolução como o resultado da ação e reação de forças antagônicas, fundamentadas no sistema de referência idealizado por Penck (1924). Neef (1972), numa abordagem mais geográfica dos componentes da paisagem natural, procura desenvolver uma postura voltada aos interesses da sociedade. "As conclusões que Neef alcança são fundamentais, deixando cristalino que se a geografia quiser atingir uma posição de mérito na resolução dos problemas mundiais, ela deverá aprofundar-se em uma concepção que a transforme em uma ciência ambiental” (Abreu, 1982). Nessa trajetória Ab'Sáber (1969) sistematiza os níveis de abordagem metodológica em geomorfologia, oferecendo um quadro de referência que valoriza a perspectiva geográfica ao retomar o conceito de “fisiologia da paisagem” usado por Siegfried Passarge (1912). Para Abreu (1982), Ab'Sáber (1969) assume uma postura naturalista dos estudos de geografia física global. Kügler (1976), ao desenvolver pesquisa e mapeamento geomorfológico na República Democrática Alemã, conceitua, de forma integrada, o relevo e o território, “que se cunham em uma interface extremamente dinâmica, produzindo uma paisagem fortemente marcada pela sociedade e por sua estrutura econômica. Apóia-se indiscutivelmente, na clássica visão alemã das diferentes esferas que se interseccionam e definem uma epiderme de pouca espessura, consubstanciando-se, formalmente, através da paisagem” (Abreu, 1982), de onde emerge o conceito de Landschaftschülle . O conceito de georrelevo concebido por Kügler corresponde a uma superfície limite produzida pela dinâmica dos integrantes sistêmicos, resgatando o conceito tradicional da geomorfologia alemã. A dinâmica e as propriedades adquiridas são fundamentais para se compreender a forma com que se dá a evolução das propriedades geoecológicas do georrelevo em propriedades sócio-reprodutoras. O uso das propriedades geoecológicas, como suporte ou recurso, reflete a intensidade e modos de uso face aos custos sociais de reprodução. Kügler (1976) utiliza-se dos eixos tradicionais de evolução da geomorfologia alemã, apoiado em Passarge (1912) e Penck (1924). Ao emergir de um contexto geográfico, a geomorfologia supera a perspectiva dicotômica interna (como a estrutural e climática, lembradas por Abreu, 1982), culminando com a concepção de georrelevo, numa perspectiva paisagística. A década de 70 pode ser tomada como o marco inicial de uma discussão mais abrangente das questões ambientais, quando aparece a designação geomorfologia ambiental (Simpósio de Bringhauton, 1970), tendo por objetivo incluir o social ao contexto das ampliações geomorfológicas. Os resultados mais significativos considerados por Achkar & Dominguez (1994) aparecem no final da década de 80: • nova conceitualização da relação sociedade-natureza, opondo-se à visão dualista uma interpretação monista; • no nível aplicado da geomofologia se apresenta o desafio de gerar respostas às questões de natureza ambiental; • quanto ao método, a geomorfologia busca uma proposta concreta, vinculada à elaboração de cartas de diagnóstico ambiental, como insumo do ordenamento espacial; • a revalorização dos antecedentes da geomorfologia alemã, no princípio do século XX, estabelece uma estreita relação da geomorfologia com a geografia, dada a conceitualização monista da natureza. Não é por acaso que tais conteúdos comecem, com o advento da ecologia, a discutir as relações sociedade-natureza enquanto categorias filosóficas Embora devam se admitir importantes avanços com relação à perspectiva de uma maior integração entre geomorfologia e geografia, os princípios metafísicos ainda se fazem presentes, chegando ao exagero de se separar o geomorfólogo do geógrafo, atribuindo-se muitas vezes ao último a responsabilidade pela decisão da escolha das variáveis de interesse considerando “sua visão particular” (Casseti, 1996). Ao se considerar a tendência ambiental numa perspectiva holística3, a geomorfologia peca por desconsiderar os processos na sua integridade, ou seja, a evolução do relevo como fruto das relações contrárias (forças internas e externas), ao mesmo tempo se constituindo substrato apropriado pelo homem enquanto componente de relações sociais de produção com interesses distintos, com reflexos nas propriedades geoecolócias do relevo. A visão holística, embora se caracterize como avanço em relação à postura fragmentária-mecanicista, carece de mudança paradigmática mais profunda, numa perspectiva ecológica4. Tal fato leva conseqüentemente a uma valorização das geociências em detrimento das relações sociais, considerando a proximidade ambiental. Partindo do princípio de que a base de sustentação teórica para a necessária abordagem ambiental fundamenta-se na dialética da natureza, fica claro que a geomorfologia, ao mesmo tempo em que deve se preocupar com a própria fundamentação teórica (a geomorfologia em si, na visão da “geomorfologia integral” de Hamelin, 1964), carece de uma rediscussão epistemológica, em busca de uma “geografia total”. Apropriando-se da concepção de dialética da natureza recuperada por Branco (1989), torna-se necessário pensar dialeticamente para apreender as novas paisagens da fisis5 (objetos disciplinares unidos por um traço comum: a “dialeticidade”). Essa compreensão só se torna possível ao resgatar o conceito de natureza. Como se sabe, a externalização da natureza6 configura o núcleo do programa da modernidade gestado no iluminismo. Tem-se, portanto, o homem como “senhor e possuidor da natureza”, legitimando a apropriação privada dos meios de produção, base de sustentação do sistema capitalista. Com base no princípio da externalização promovem-se as diferentes formas de alienação, o “desencantamento do mundo”, o que permite a apropriação espontaneísta e dilapidante da natureza, além do evidente antagonismo de classes sociais. Significa, portanto, que para compreender a natureza em sua integridade, numa perspectiva dialética, torna-se imprescindível compreender além das relações processuais (contribuição da geomorfologia em si), as relações de produção e suas forças produtivas, sem desconsiderar as implicações da superestrutura ideológica, responsável pela preservação das diferentes formas de alienação (o necessário traço comum para a união dos objetos disciplinares), culminando com a apropriação espontaneista do utilitarismo. Compreender a dialeticidade da natureza significa compreender a unidade entre o processo histórico natural e a história do homem, o que permite concluir que o processo do pensamento é, ele próprio, elemento da natureza: o movimento do pensamento não está isolado do movimento da matéria, o que se contrapõe ao dualismo psicofísico descarteano – substância pensante e substância meramente extensa – que fundamentou o princípio de que a natureza interna está dominada em prol da dominação da natureza externa (Casseti, 1996). Conclui-se que preocupar-se com a perspectiva ambiental em geomorfologia significa preocupar-se com a compreensão dialética da natureza, numa visão de Engels, o que demonstra ser responsabilidade de todos, em busca da unidade que tem sido entendida de forma parcial. 1.3. Síntese Evolutiva dos Postulados geomorfológicos As diferenças histórico-culturais européias levaram à individualização de quadros nacionais contrastantes no contexto político continental, contribuindo para que se desenvolvessem correntes filosóficas e relações escolásticas distintas, levando ao discernimento de duas linhagens epistemológicas em geomorfologia. Uma , hoje identificada como de natureza anglo-americana, onde se evidenciou a aproximação da Inglaterra e França com os Estados Unidos, e outra de raízes propriamente germânicas, que posteriormente incorporou a produção publicada pelos russos e poloneses. A linhagem epistemológica anglo-americana fundamenta-se, praticamente até a Segunda Guerra Mundial, nos paradigmas propostos por Davis (1899), através de sua teoria denominada de Geographical Cycle . Para ele, o relevo se definia em função da estrutura geológica, dos processos operantes e do tempo. Apesar de Gilbert (1877) já ter tentado explicar o relevo como resultante da erosão, portanto numa perspectiva climática, Davis considerava a morfologia em função da estrutura geológica, o que mereceu críticas insistentes do meio intelectual germânico contemporâneo, por volta de 1908/9. A geomorfologia davisiana praticamente não tinha qualquer articulação com uma visão processual mais ampla, como a incorporação de componentes da climatologia ou da biogeografia, amplamente integradas na geomorfologia alemã. No final da década de 30 do Século XX, os norte-americanos se interessaram pelas críticas de W. Penck à teoria davisiana. A interpretação de Penck (1924) ao ciclo geográfico, divulgada durante o Simpósio de Chicago (1939), foi incorporada pelos seguidores de Davis, criando novos paradigmas. Durante a Segunda Guerra Mundial, a influência do pensamento científico alemão se amplia nos Estados Unidos, proporcionando o desenvolvimento de técnicas implementadas com posturas filosóficas bem definidas. Um dos autores da corrente anglo-americana que utilizou os princípios adotados por Penck foi Lester C. King (1953), cujas pesquisas sobre aplainamento caracterizavam o centro das atenções geomorfológicas na época. Na oportunidade, Kirk Bryan, Jean Dresch e André Cholley, até então vinculados à linhagem anglo-americana, começam a distanciar-se da concepção davisiana de relevo. Cholley (1950), partindo da análise corológica, introduz conceitos como “dialética das forças'' em sistema aberto. Deve-se acrescentar que a escola francesa, que exerceu posteriormente grande influência no desenvolvimento da geografia e geomorfologia brasileiras, se caracterizava pela reprodução do conhecimento científico angloamericano. Isso pode ser exemplificado através das influências de Davis nos trabalhos elaborados sob a perspectiva estrutural, com Emmanuel de Martonne e André de Lapparent, fundamentados na tradição morfoestrutural de Emmanuel de Marguerie (1888, apud Mendonza et al, 1982). Progressivamente, os autores americanos assumem uma atitude mais crítica, contribuindo sobremaneira para a elaboração de outros paradigmas, como o do “espaço”, enquanto Davis valorizava o “tempo”. Assim, enquanto a escola germânica valorizava as relações processuais e reflexos no modelado da paisagem, a anglo-americana, tendo Davis como principal representante, tinha o fator temporal como determinante da evolução do modelado, evidenciado pela antropomorfismo do relevo. A concepção evolutiva de Davis tinha por objetivo contribuir, de maneira despretensiosa, para o entendimento evolutivo do modelado, embora sem desconhecer a complexidade dos processos. Contrariando a postura tida como subjetiva de Davis, os autores americanos “convertidos” propunham fatos objetivos, estudados sob a ótica da quantificação, valorizando as relações processuais. A partir da década de 40 até a de 60, a quantificação, a teoria dos sistemas e fluxos e o uso da cibernética (geografia quantitativa) assumem a vanguarda nos estudos geomorfológicos. Valorizam-se a análise espacial e o estudo das bacias de drenagem (Strahler, 1954; Gregory & Walling, 1973), ao mesmo tempo em que novas posturas começam a surgir, como a teoria do equilíbrio dinâmico de Hack (1960). Horton (1932, 1945), que já havia estabelecido leis básicas no estudo de bacias de drenagem utilizando propriedades matemáticas, assume relevância nos estudos hidrológicos. Ainda na linha de adaptação e reforma do paradigma davisiano, destacam-se H. Baulig (1952) e P. Birot (1955). O primeiro, admitindo a freqüência dos movimentos crustais e as variações relativas ao nível dos mares, e o segundo concluindo que a evolução geral do relevo encontra-se relacionada a uma modalidade de ciclo morfológico que está em função do clima e da vegetação. A inclusão da ação humana como instrumento de modificação das formas do relevo trouxe a vantagem de melhor entendê-las dentro de sistemas geomórficos atuais, ampliados pelos processos denominados de morfodinâmicos (Cruz, 1982). Entre 1960 e início da década de 70, a aplicação dos postulados anteriormente obtidos, incorpora a teoria probabilística. Esses trabalhos acabaram caindo em formulações estéreis, sobretudo pela rejeição ao paradigma davisiano, sem serem substituídos por outros universalmente aceitos. Se por um lado valorizam o espaço e supostas relações processuais, por outro desconsideram as relações temporais, julgadas como comprometidas com o paradigma davisiano (Abreu, 1983). Morley & Zunpfer (1976) e Thornes & Brunsden (1977) procuram rever as propostas precedentes. Não introduzem novos paradigmas, mas apresentam posição crítica liberta de preconceitos, valorizando as observações de campo. Levam em conta a ação processual, segundo referencial têmporo-espacial (Schumm & Lichty, 1965). A linhagem epistemológica alemã tem Ferdinand von Richthofen (1883) como referência inicial, mantendo a pretensão humboldtiana de globalidade (harmonia natural). Enquanto Davis tinha em sua retaguarda nomes de geólogos, von Richthofen tinha como predecessores autores naturalistas, que por sua vez tinham Goethe como ponto de referência permanente, que empregou pela primeira vez a expressão “morfologia'' como sinônimo de geomorfologia. Fica patente a preocupação da “escola germânica” em tratar o relevo numa perspectiva geográfica, o que pode ser atribuído à própria origem de sua linhagem epistemológica, relacionada aos naturalistas, a exemplo de Alexander von Humboldt (1769-1859). Enquanto Davis apresentava uma proposição teorizante-dedutivista, von Richthofen se individualizava pela perspectiva empírico-naturalista utilizando-se de guia de observações de campo. Albrecht Penck (1894) também teve um papel fundamental na orientação da geografia alemã. Apesar de compartilhar de algumas noções básicas da teoria davisiana, como a de aplainamento, A. Penck deu ênfase à herança naturalista de Goethe e Humboldt, valorizando a observação e a análise dos fenômenos. A. Penck (1894) sistematiza teorias e formas do relevo (tratamento genético das formas), tornando-se um dos clássicos da Geografia, exercendo grande influência no desenvolvimento da geomorfologia alemã nas primeiras décadas do século XX. Dentro desse contexto, três autores se destacam: A. Hettner (1927), grande crítico da teoria davisana; S. Passarge (1912, 1913), com a proposição de novos conceitos, como “fisiologia da paisagem'', fundamentado na idéia de organismo e S. Günther (1934), que desenvolveu uma abordagem processual e crítica ao sistema de referência davisiano. Walther Penck (1924) aparece como principal opositor da postura dedutivista-historicista de Davis, valorizando o estudo dos processos. Em Morphological Analysis of Landform , publicação póstuma, utiliza-se da geomorfologia para subsidiar a geologia e contribuir para a elucidação dos movimentos crustais. Contribui assim para o avanço da geomorfologia, formalizando conceitos como o de “depósitos correlativos''. Apesar de criticado, com a publicação de 1953, versão inglesa, levou alguns autores norte-americanos a se interessarem pelos estudos de vertentes e processos. Desde Sigfried Passarge (1912), Otto Schüter (1918) e Karl Sapper (1914), os trabalhos de Geografia física coincidem com o estudo científico de diversas configurações resultantes do intercâmbio funcional entre litosfera, hidrosfera e atmosfera, que se dá na superfície terrestre, cuja unidade espacial representa o conceito de “paisagem''. A linha de estudos da geomorfologia climática e climatogenética emerge das pesquisas de J. Büdell (1948), “que levaram a uma ordenação dos conjuntos morfológicos e origem climática, em zonas e andares, produzidos pela interação das variáveis epirogenéticas, climáticas, petrográficas e fitogeográficas'' (Abreu, 1983)”. O temário “paisagem'' evolui com Troll (1932), que reconhece a necessidade tanto teórica quanto prática de uma convergência entre geografia física e ecologia. Após a Segunda Guerra, a cartografia geomorfológica emerge como instrumento fundamental para a análise do relevo, graças às contribuições desenvolvidas na Polônia, Tchecoeslováquia e URSS (Klimaszewski, 1983; Demek, 1976; Basenina & Trescov, 1972). O avanço do mapeamento geomorfológico e seu crescente emprego no planejamento regional mantêm o caráter geográfico da ciência geomorfológica. Assim, a geomorfologia alemã, na Segunda Guerra Mundial, se beneficia com o desenvolvimento da cartografia geomorfológica, enquanto a geomorfologia anglo-americana permanece estagnada. As críticas consubstanciadas ao modelo davisiano acabam respondendo por uma verdadeira ruptura epistemológica na perspectiva anglo-americana, aproximando-se cada vez mais das bases que subsidiam a linhagem germânica (Fig 1. 1 .). Outras considerações contrastantes podem ser notadas entre as escolas anglo-saxônica e germânica, que justificam as divergências teórico-metodológicas, a começar por Davis, que se utilizou do referencial teorizante, apoiado em posturas geológicas. A escola germânica por sua vez, fundamenta-se na concepção naturalista de Humboldt. Deve-se acrescentar que a preocupação com o espaço encontra-se vinculada a uma Geografia político-estatística, onde a unidade regional é priorizada. Enquanto Davis é o principal ponto de referência da geomorfologia anglo-americana, W. Penck se caracteriza como um dos grandes entre muitos. Portanto, a postura teorizante de Davis e o próprio processo dedutivo contribuem para a evolução do referencial cíclico do relevo em sistemas de tendência axiomática, onde a ação processual quantificada romperia com a abordagem historicista. A geomorfologia alemã, fundamentada na observação, caracterizava-se como guia de campo. Assim, se as reformulações conceituais na escola angloamericana evidenciavam ruptura epistemológica, a geomorfologia alemã se caracterizava pelo progressivo refinamento de conceitos. O estruturalismo e a teoria dos sistemas processaram repercussões distintas no nível epistemológico em ambas as escolas. Na Alemanha, evidenciou-se maior integração das ciências naturais, favorecendo as análises geoecológico- processuais, valorizando a cartografia geomorfológica e a ordenação ambiental (ótica marxista, identificada nas propostas dos países socialistas), ao mesmo tempo demonstrando o caráter geográfico através da sua vinculação com a questões sociais. Na escola anglo-americana , a já considerada ruptura com a abordagem historicista favorece o desenvolvimento de teorias e métodos de análises quantitativas, isolando a geomorfologia da geografia e orientando-a para perspectivas geológicas e hidrológicas. A tentativa de se harmonizarem as transformações observadas leva ao surgimento de teorias alternativas, proporcionando a valorização dos processos geomorfológicos, segundo o sistema referencial têmporo-espacial. Apesar da convergência internacional do conhecimento geomorfológico, as duas tendências consideradas apresentam-se razoavelmente diferenciadas, mesmo com a incorporação gradativa da postura alemã à americana, evidenciada gradativamente a partir do Simpósio de Chicago (1939). No Brasil, a mais importante contribuição à teoria geomorfológica parte de Ab'Sáber (1969), que “salvo melhor juízo, parece dar a tônica nos postulados de raízes germânicas'' (Abreu, 1983). Recentemente, autores soviéticos e franceses (Bertrand, 1968; Tricart, 1977, Sochava, 1972) têm procurado desenvolver estudos integrados da paisagem, sob a ótica dos geossistemas, o que valoriza a perspectiva geomorfológica alemã. Assim, com o progressivo amadurecimento do estudo da paisagem e dos estudos geoecológicos, originados e desenvolvidos a partir da sistematização da geomorfologia alemã, tem sido possível articular a natureza à sociedade. Retomando Schmithüsen (1970) “se queremos compreender a ação do homem, não devemos separar a sociedade do meio ambiente que a rodeia''. Casseti (1991) apropria-se do conceito de “natureza externalizada” como argumento de apropriação espontaneísta do relevo. A partir dos subsídios oferecidos pela “geomorfologia funcional”, propõe alternativa para o desenvolvimento de uma “geomorfologia integral” no conceito de Hamelin (1964).

LIVRO: O ANJO DE QUATRO PATAS


 
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Número de páginas: 222 

Edição: 1(2015) 

ISBN: 978-1518677663 

Formato: A5 148x210 

Coloração: Preto e branco 

Acabamento: Brochura c/ orelha 

Tipo de papel: Offset 75g

Esta é a história de um cão, um homem e um anjo. Talvez para você será apenas uma história fantasiosa sobre um animal de estimação, mas para mim, foi muito mais do que isto. Enquanto estou escrevendo estas palavras, o corpo sem vida do meu anjo está no carro, esperando para o sepultamento digno que farei amanhã a cem quilômetros daqui. Estou mergulhado em sentimentos como: agradecimento, gratidão, doces lembranças e nostalgia. Este livro pode ser classificado como realismo fantástico, porque parte do livro é expressão dos meus sentimentos e lembranças e parte do livro é sensorial, ao longo dos anos eu e a cadela conversávamos através do pensamento, por telepatia. As pessoas são livres para acreditarem ou não no que quiser, inclusive na história que eu vivi com a Doutora. Eva conversou com a serpente, Balaão com a mula e eu com um cachorro. Estas histórias são reais. As pessoas tem impulso de rejeitar o que não conhece. Não peço que acredite, apenas leia a minha história.




sexta-feira, 15 de abril de 2016

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  Este presente volume faz uma análise das ligações telefônicas que o juiz Sergio Moro retirou o sigilo do processo e permitiu que a sociedade brasileira tomasse conhecimento do complô que Lula, Dilma e a cúpula do Partido dos Trabalhadores tramavam contra o Brasil. Em seu plano de poder, o PT enriqueceu seus membros mais ilustres e arregimentava sua quadrilha na ralé da sociedade com seus exércitos paralelos como o MST, os ditos movimentos sociais, os sindicatos e grupos sanguessugas como a CUT (Central Única dos Trabalhadores).  As revelações das conversas telefônicas deixaram o Brasil estarrecido com as manobras ilegais que o PT tramava para livrar Lula das mãos pesadas da justiça federal, em especial, da REPÚBLICA DE CURITIBA, pois daquela capital brasileira, uma força conjunta da Policia Federal, do Ministério Público Federal e da Justiça Federal, desvendou-se o maior esquema de corrupção da história do Brasil e mesmo da história da humanidade. O volume de dinheiro desviado do erário público e da Petrobrás trata-se de uma soma astronômica que bandidos mancomunados transferiram para sustentar a máfia do PT


sábado, 2 de abril de 2016

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O livro está repleto de relatos de milagres que acompanharam a vida de Antão, merecendo credibilidade pelo caráter crítico do seu biografo, o teólogo Atanásio. Antão desde cedo mostrava tendência a vida isolada e se distanciava da vida social, recusando-se mesmo ir a escola e sendo de família cristã era extremamente aplicado a obediência ao Evangelho. Desde cedo o Espirito Santo tocou-lhe sobre a necessidade de largar e desprezar as riquezas e prazeres deste mundo para se dedicar a vida de oração. Atanásio que era um fervoroso bispo cristão era aplicado a teologia dedicando toda a sua vida ao combate a seita dos arianos. Atanásio em seu combate a seita ariana, formulou como ninguém antes a teologia da Trindade, expondo de forma inequívoca pelas Escrituras que Deus é triúno. Antão e Atanásio eram cúmplices neste combate ao arianismo. Devemos a Atanásio o maravilhoso registro sobre a vida de Antão e graças a este registro, muitos cristãos foram influenciados pelo exemplo de vida deste servo de Deus.




MAIOR TRAGÉDIA CLIMÁTICA DO BRASIL


Cenário de destruição em Teresópolis: carros atolados na lama foram destruídos por pedras que rolaram do morro |

Cenário de destruição em Teresópolis: carros atolados na lama foram destruídos por pedras que rolaram do morro
RIO DE JANEIRO

Chuva na região serrana já é a maior tragédia climática da história do país

Número de mortos no Rio de Janeiro já ultrapassa 500. Total de vítimas ultrapassou o registrado em 1967, em Caraguatatuba. Dilma Rousseff visitou áreas atingidas

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A chuva na região serrana do Rio de Janeiro já é considerada a maior tragédia climática da história do país e e um dos dez maiores deslizamentos do mundo registrados desde 1900. O número de vítimas ultrapassou o registrado em 1967, na cidade de Caraguatatuba, no litoral norte de São Paulo. Naquela tragédia, tida até então como a maior do Brasil, 436 pessoas morreram, segundo levantamento do portal G1. As chuvas na região Serrana do Rio deixaram 470 mortos desde terça-feira (11), segundo identificou o Instituto Médico Legal (IML).
Em Teresópolis, onde voltou a chover na manhã desta quinta-feira (13), a prefeitura informou que já são 223 mortos. Em Nova Friburgo, o número subiu para 225, segundo a prefeitura, e emPetrópolis, o número é de 39 óbitos, a maioria encontrada no Vale do Cuiabá, Distrito de Itaipava. Em Sumidouro já foram confirmadas 19 mortes, mas na região há previsão de mais mortos e o hospital já abriga vários feridos. No total, as prefeituras já totalizam 506 mortos.
Estes números ainda podem crescer drasticamente nos próximos dias. Em Teresópolis, a prefeitura não conseguiu chegar a três bairros muito castigados pelas chuvas. Há cidades completamente isoladas.
Enquanto isso, o número de desabrigados edesalojados na região serrana já chega a 13.930. Segundo o último balanço do governo do estado, Petrópolis tem 6.500 desabrigados ou desalojados, e 1.500 casas total ou parcialmente destruídas. Em Teresópolis, são 960 desalojados, e 1.280 desabrigados. Cerca de 900 moradores de Teresópolis já foram cadastrados na cidade para receber donativos. Em Nova Friburgo, 3.220 desalojados, e 1.970 desabrigados.
O atendimento às vítimas da enchente emTeresópolis é feito no ginásio Pedro Jahara e, segundo o secretário de Desenvolvimento Social de Teresópolis Rudimar Caberlon, um outro galpão na cidade e mais cinco igrejas também servirão de alojamento para desabrigados. O prefeito de Teresópolis, Mário Jorge, afirmou na noite desta quinta que vai precisar de pelo menos R$ 590 milhões para recuperar a cidade. "Temos cerca de R$ 5 milhões que dá para manter as equipes de resgate por três dias. A partir daí, vamos precisar da ajuda do governo federal e estadual. Para recuperar a cidades serão mais R$ 590 milhões", disse o gestor ao O Globo Online.
Em Petrópolis, 26 pessoas que estavam ilhadas nas localidades conhecidas como Alto Cavalos e Santa Rita, no Vale do Cuiabá foram resgatadas durante a noite. Os dois pontos eram considerados com maior grau de dificuldade de acesso para as equipes.
Os moradores estavam sem nenhum meio de comunicação. De acordo com informações da prefeitura do município, a Secretaria de Trabalho, Assistência Social e Cidadania (Setrac) já encaminhou alimentos, água, material higiênico, entre outros para o auxílio das vítimas.
Auxílio médico
Dois caminhões da Cruz Vermelha Internacionalcarregados com medicamentos chegaram à Teresópolis para dar auxílio aos desabrigados das chuvas. A médica responsável pela equipe de atendimento, Dra. Cláudia Miguel Coelho, disse a reportagem do O Globo Online que a maioria do casos é de pequenos traumatismos. A princípio, está sendo ministrada a vacina antitetânica em todas os desabrigados. O estádio Pedro Jahara, conhecido como Pedrão, não tem mais espaço para receber ninguém. As arquibancadas viraram depósito de donativos, que não param de chegar(confira no box ao lado como ajudar os atingidos pela chuva no Rio).
Depoimentos em meio à tragédia
Sem ter para onde ir, muitos sobreviventes andavam pelas ruas atrás de abrigo ou se refugiaram em casas de familiares ou locais disponibilizados pelas prefeituras.
"Houve um estrondo e a metade do meu barraco caiu. Tentei ir pra casa do vizinho, aí deu um estrondo no morro, eu fiquei apavorado, e quando vi a barreira me pegou e me jogou a 15 metros de distância, e ainda caiu uma árvore em cima de mim", disse à Reuters TV o aposentado Dejair Rosa da Rocha, de 76 anos.
Uma autoridade municipal de Teresópolis, que pediu anonimato, informou que um bairro inteiro da cidade foi soterrado pelo deslizamento de lama e pedras de uma encosta em consequência das fortes chuvas.
Algumas pessoas que conseguiram se refugiar num campo de futebol foram resgatadas nesta quinta por helicóptero, mas a prefeitura acredita que cerca de 150 casas no bairro de Campo Grande ficaram debaixo de terra.
"Pelo número de casas que havia lá, a estimativa de pessoas desaparecidas é grande. Podem ser até 300 pessoas. Agora não há nem condições de mexer lá, deve ter 3 metros de terra. Primeiro precisamos resgatar as pessoas que estão vivas", disse à Reuters a funcionária da prefeitura.
A moradora de Teresópolis, Rejane Bastos, diz aoO Globo Online que o estado é de calamidade na cidade. "Os números de mortos que estão sendo divulgados pela impresa ainda é baixo, infelizmente. Estou trabalhando como voluntária e posso dizer que dezenas de corpos estão em igrejas aguardando o reconhecimento. Orem pelo povo da região serrana, pois não dá para descrever o que aconteceu aqui. Eu e minha família estamos bem, embora sem água, internet, luz e telefone. Mas não tenho noção de quantos amigos perdemos", destacou.
Municípios isolados
Há cidades completamente isoladas. São José do Vale do Rio Preto, próximo a Teresópolis, está ilhada. Telefones não funcionam e a estrada de acesso está interrompida por quedas de barreira. Pelo menos 60 casas foram arrastadas pelas águas do rio Preto que corta a cidade. Ainda não há nem estimativas do número de mortos na cidade que ficou conhecida graças a uma música de Tom Jobim. Foi lá, às margens do rio Preto, onde passava longas temporadas, que Tom compôs "Águas de março". A casa do filho de Tom, Paulo Jobim, foi atingida pela enxurrada, mas não havia ninguém lá na hora da tragédia. Outras cidades atingidas, onde há milhares de desalojados, foram Bom Jardim, Areal e Sapucaia.
Resgate das vítimas
Cerca de 500 homens do Corpo de Bombeiros atuam nesta quinta-feira no resgate das vítimas. A equipe trabalhava com apoio de maquinaria pesada para remover barreiras em estradas de acessos a locais mais afastados, além de helicópteros para chegar às áreas cujo acesso por terra é impossível.
"O cenário ainda é de muita destruição, a situação é extremamente crítica, mas a gente tem que avançar, não podemos parar", disse o coronel José Paulo Miranda, chefe do Estado-Maior e subcomandante do Corpo de Bombeiros do Estado.
"Nós montamos um hospital de campanha em Teresópolis e a Marinha tem a previsão de montar um hospital de campanha em Friburgo. Mesmo assim, nós estamos remanejando médicos dos Bombeiros para aquela região. Hoje, o atendimento aos feridos é prioritário", acrescentou ele em entrevista àReuters.
Polícia Civil do Estado montou em Teresópolis e em Nova Friburgo uma força-tarefa para a identificação dos corpos, segundo Miranda. Em Teresópolis, com a capacidade do Instituto Médico Legal esgotada, uma igreja era usada para armazenar os cadáveres retirados dos escombros.
Ministério da Justiça determinou o envio de 210 membros da Força Nacional de Segurança Pública para a região, entre policiais militares, bombeiros e peritos para ajudar na identificação dos corpos.
Dilma diz que governo federal ajudará no resgate e reconstrução
A presidente da República Dilma Rousseff falou na tarde desta quinta-feira (13) sobre os trabalhos de resgate e reconstrução nas áreas atingidas pela chuva na Região Serrana do Rio de Janeiro. “É de fato um momento muito dramático. As cenas são muito fortes. É visível o sofrimento das pessoas. O risco é muito grande”, disse Dilma.
Ao lado do governador Sérgio Cabral, ela afirmou que o governo federal vai trabalhar em conjunto com os governos estadual e municipais na reconstrução. “O governo federal vai estar aqui no estado do Rio de Janeiro solidário, operando com o governo estadual e com as prefeituras, no sentido de agora, resgatar, e depois reconstruir,” afirmou a presidente.
A presidente chegou por volta das 13h30 à Rua Luís Spinelli, no centro da cidade de Nova Friburgo.No local, um prédio desabou parcialmente e uma viatura do Corpo de Bombeiros foi soterrada. Ao todo, três bombeiros morreram no local.
Calçando galochas, Dilma percorreu a rua acompanhada do governador do Rio, Sérgio Cabral, do prefeito em exercício de Nova Friburgo, Demerval Neto (PMDB), e de alguns ministros. No trajeto, ela conversou com um morador.
"Vimos regiões em que as montanhas se dissolveram, sem presença do homem, sem nenhuma ocupação irregular, mas vimos também regiões em que a ocupação irregular do solo em áreas de risco provoca danos à vida", acrescentou.
o governador Sérgio Cabral (PMDB)vociferou contra os antecessores que permitiram a ocupação inadequada de encostas em todo o Estado. "Lamentavelmente, o que tivemos na região serrana foi um problema muito semelhante ao que aconteceu na cidade do Rio de Janeiro, que é a desgraça do populismo. Deixaram a ocupação de áreas acontecer como se fossem aliados dos mais pobres. A grande maioria atingida é de populares. Políticos oportunistas de plantão sempre se aproveitam para fazer defesa de ocupações irregulares", disse, em entrevista coletiva, ao lado da presidente Dilma Rousseffcom quem sobrevoou nesta quinta as áreas atingidas.

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